sexta-feira, 17 de julho de 2015

O que você sabe sobre a água que bebe em João Pessoa?

Um livro lançado em 2014 pelo Professor Tarcísio Alves Cordeiro da Universidade Federal da Paraíba, intitulado O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A ÁGUA DE JOÃO PESSOA ( LINK AQUI ) mostra a realidade da bacia do rio Gramame que abastece de água a nossa cidade. Além das constatações sobre o estado dessa bacia e a qualidade da água, o livro comenta sobre o triste descaso do poder público e demais atores governamentais.

O livro também alerta que esse descaso não ocorre por falta de estudos!  Pois são relatadas inúmeras pesquisas e trabalhos realizados tanto pela UFPB como pela UEPB em diversas áreas do conhecimento científico: Geografia, Geologia, Biologia, Oceanografia, Clima, Química e diversas Engenharias, que apontam para a mesma realidade : O RIO ESTÁ MORRENDO.

O manejo errôneo do solo e ocupação indevida nas áreas de mata ciliar ( plantações e criação de animais ) ressaltados no livro,  geram por si só um fortíssimo impacto no rio. Processos de assoreamentos e bancos de areia são as consequências vistas por essa falta de fiscalização, desse que é um dos principais mananciais que abastecem a Grande João Pessoa.
" [...] as condições atuais das margens dos rios do Gramame na imagem do Google Earth, mostra que a paisagem natural foi praticamente toda suprimida, os rios estão nus. Hoje, o que encontramos no lugar das matas ciliares são canaviais, plantações de abacaxi, pastos e até areeiros. "
 Entretanto, infelizmente esse não é o único problema da bacia.
 A bacia está com um déficit de retirada de água para o uso humano, e mesmo assim grande parte da sua água é usada pela agricultura e outra parte é lançada em forma de esgotos em outros rios. Isso diminui sua vazão e compromete sua capacidade de diluição da poluição e renovação da água e o seu próprio abastecimento.
"O fato é que a bacia do Gramame está no seu limite de retirada de água para uso humano, segundo Cabral da Silva et al. (2002), atualmente 63 % da demanda de água é para o abastecimento urbano, 36 % para a irrigação e 1 % para abastecimento na própria bacia. Isso significa que muita água está sendo retirada do rio e que a maior parte não irá retornar porque será lançada na forma de esgotos em outros rios, principalmente nos rios Cuiá e Tambiá. "
A agricultura tem grande importância na paisagem, pois além de utilizar a bacia para irrigação e ocupar indevidamente áreas de mata ciliar, promove também a entrada de agrotóxicos na bacia. Os agrotóxicos possuem destaque no livro com dados alarmantes que não limitam-se ao meio natural - uma catástrofe por si só - , mas também aos seres humanos. O quão danoso é a presença de agrotóxicos na saúde humana é igualmente enfatizado no livro: 72 tipos de pesticidas diferentes foram detectados na bacia do gramame, sendo que a tabela VMP ( Valores Máximos Permitidos) do MMA ( Ministério do Meio Ambiente) possui apenas 27 elementos.
Plantio de cana-de-açucar em praticamente toda a sua margem. Fonte: Marco Vidal, 2009.  Imagem retirada do livro 'O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa (2014)'.
" Voltando aos 72 produtos identificados no Gramame, se formos combinar cada dois pesticidas, teremos de realizar 2.556 análises, se forem combinações de 3, o número de testes sobe para 59.640, e assim por diante "
Dos 72 pesticidas, 41 são altamente ou extremamente tóxicos. E alguns foram encontrados nos mananciais que abastecem a Grande João Pessoa.
" [...] foram encontrados mais três agrotóxicos a montante (antes) da captação da CAGEPA, Ametrina, Diuron e Tebuthiuron; somando-se a Atrazina, já são quatro agrotóxicos nas águas que vão abastecer a GJP. À jusante, no médio curso, foi encontrado ainda o fungicida Tetraconazol. Dessas substâncias, somente o Diuron e a Atrazina são regulados pela Portaria n.º 2914/2011 do Ministério da Saúde "
A realidade da bacia do Gramame e a qualidade de sua água é duramente exposta no livro e chocante. Assusta! Já é visto o efeito negativo em comunidades ribeirinhas (  Mituaçú, Colinas do Sul, Gramame e Engenho Velho ), também citadas no livro, que sofrem com os danos causados à bacia hidrográfica.
Com a iminente necessidade de uma intervenção na bacia, o autor cita medidas mitigadoras de carácter imediato para conter a degradação desse importante manancial de João Pessoa, a exemplo da recuperação da mata ciliar dos rios e da represa que abastece a cidade de João Pessoa. 
*** A petição pública on line feita pelo Professor Tarcísio, reforçada no livro (link: http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=P2013N44172)
TEXTO: Guilherme Barroca, aluno do curso de Graduação em Geografia e Monitor do curso Geografia e Meio Ambiente. 

Edição: Diôgo da Silva Santos

2 comentários:

  1. Um estudo científico do que já sabíamos e era anunciado há décadas, desde os anos 70/80 quando fui estudante de geografia. O CCEN da UFPBpor Boa de Deus competentes mestres ja alertavam para esse problema. Tragédia anunciada. Hoje, tantas doenças intestinais crônicas e estomacais podem ter origem nos venenos diários que ingerimos. Sob os auspícios da lei.

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  2. Correção: "através de boa parte de seus competentes Mestres "

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