sexta-feira, 17 de abril de 2015

Relato de um Pesadelo Real: A Retirada dos Ipês-amarelos da Beira-Rio

Noite vazia de uma segunda-feira. Decidimos voltar do Centro da cidade pela Beira-Rio, ‘porque ela é uma avenida mais bonita’, como um dos nossos amigos comentou. E assim fomos. Por volta das 22h30, na altura do Rio Jaguaribe, um choque: uma grande operação da Prefeitura Municipal, com cerca de seis caminhões, escavadeiras e muitos homens aniquilavam 21 árvores de uma só vez. Dentre elas, os Ipês amarelos, que por tantos verões floriam trazendo beleza a minha vida e a de tantos outros moradores de João Pessoa.

Nessa hora, a operação estava apenas começando e cerca de cinco árvores já haviam sido assassinadas. No impulso, desci do carro e comecei a gravar o vídeo de 15 segundos que não mostrou toda a monstruosidade e covardia contra a natureza, esta que só nos oferece, sem pedir nada em troca. A natureza fornece alimento, ar puro, clima ameno, água e beleza. Pra quem? Se nós temos pressa nos carros com ar condicionado, além de antidepressivos pra seguir nesta selva de pedras que as cidades estão se transformando, insalubres, insanas, tristes. Este pequeno vídeo publicado no Facebook acabou gerando repercussão e a sociedade se revoltou nas redes sociais, chegando o vídeo a ser visualizado por mais de 10 mil vezes.

O luto resistindo a máquina. Foto: Christinne Eloy

Com tudo isso, o movimento João Pessoa que Queremos, do qual também faço parte, organizou ontem a tarde o funeral dos Ipês onde poucas pessoas puderam comparecer ao lugar que ficou triste, vazio, sem energia. Um tremendo choque na paisagem e uma agressão à natureza e aos moradores de uma cidade que não é arborizada. Conhecida como cidade verde por ter algumas áreas grandes florestadas, o governo municipal acostumou-se a fazer uma gestão de arborização fraca e obsoleta quanto à manutenção das árvores antigas, e completamente sem controle do sucesso das novas mudas plantadas. Esta gestão atual está nos deixando inseguros quanto aos rumos do desenvolvimento de uma cidade que está cada dia mais quente, e sem áreas verdes e parques para convívio social.

Manifestantes no funeral das árvores cortadas na Beira-Rio. Foto: Christinne Elloy

A noite de segunda-feira foi triste, chorei e ainda estou chocada com tamanha covardia. Ela ficará em minha memória como algo que eu não gostaria de presenciar, tampouco saber que ocorreu novamente na cidade que escolhi para viver há dez anos justamente por ser verde. Eu e muitas outras pessoas, que assiste a principal beleza da cidade esvair-se em forma de concreto, acabamos nos sentindo de mãos atadas diante de uma gestão que deveria ser democrática, mas que na verdade ignora os moradores e burla as leis de diálogo e transparência, nos deixando inseguros e em contagem regressiva para o fim deste mandato.


Texto: Vivian Maitê Castro
Edição: Diôgo da Silva Santos 

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