Noite
vazia de uma segunda-feira. Decidimos voltar do Centro da cidade pela
Beira-Rio, ‘porque ela é uma avenida mais bonita’, como um dos nossos amigos
comentou. E assim fomos. Por volta das 22h30, na altura do Rio Jaguaribe, um
choque: uma grande operação da Prefeitura Municipal, com cerca de seis
caminhões, escavadeiras e muitos homens aniquilavam 21 árvores de uma só vez.
Dentre elas, os Ipês amarelos, que por tantos verões floriam trazendo beleza a
minha vida e a de tantos outros moradores de João Pessoa.
Nessa
hora, a operação estava apenas começando e cerca de cinco árvores já haviam
sido assassinadas. No impulso, desci do carro e comecei a gravar o vídeo de 15
segundos que não mostrou toda a monstruosidade e covardia contra a natureza, esta
que só nos oferece, sem pedir nada em troca. A natureza fornece alimento, ar
puro, clima ameno, água e beleza. Pra quem? Se nós temos pressa nos carros com
ar condicionado, além de antidepressivos pra seguir nesta selva de pedras que
as cidades estão se transformando, insalubres, insanas, tristes. Este pequeno
vídeo publicado no Facebook acabou gerando repercussão e a sociedade se
revoltou nas redes sociais, chegando o vídeo a ser visualizado por mais de 10
mil vezes.
O luto resistindo a máquina. Foto: Christinne Eloy
Com
tudo isso, o movimento João Pessoa que Queremos, do qual também faço parte,
organizou ontem a tarde o funeral dos Ipês onde poucas pessoas puderam
comparecer ao lugar que ficou triste, vazio, sem energia. Um tremendo choque na
paisagem e uma agressão à natureza e aos moradores de uma cidade que não é
arborizada. Conhecida como cidade verde por ter algumas áreas grandes
florestadas, o governo municipal acostumou-se a fazer uma gestão de arborização
fraca e obsoleta quanto à manutenção das árvores antigas, e completamente sem
controle do sucesso das novas mudas plantadas. Esta gestão atual está nos
deixando inseguros quanto aos rumos do desenvolvimento de uma cidade que está
cada dia mais quente, e sem áreas verdes e parques para convívio social.
Manifestantes no funeral das árvores cortadas na Beira-Rio. Foto: Christinne Elloy
A
noite de segunda-feira foi triste, chorei e ainda estou chocada com tamanha
covardia. Ela ficará em minha memória como algo que eu não gostaria de
presenciar, tampouco saber que ocorreu novamente na cidade que escolhi para
viver há dez anos justamente por ser verde. Eu e muitas outras pessoas, que
assiste a principal beleza da cidade esvair-se em forma de concreto, acabamos
nos sentindo de mãos atadas diante de uma gestão que deveria ser democrática,
mas que na verdade ignora os moradores e burla as leis de diálogo e
transparência, nos deixando inseguros e em contagem regressiva para o fim deste
mandato.
Texto: Vivian
Maitê Castro
Edição: Diôgo da Silva Santos
Edição: Diôgo da Silva Santos
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