Vivian Maitê Castro, é colaboradora do projeto Mata
Atlântica nas escolas e trabalha na SOS Mata Atlântica. Recentemente, ela foi à
Paris apresentar um trabalho sobre a Políticas Públicas de Planos Municipais da
Mata Atlântica, que começou em João Pessoa. Conheça essa história, na
entrevista para o blog.
Blog: Como começou o seu interesse pela proteção e
conservação da Mata Atlântica?
Vivian: O interesse começou
com o conhecimento sobre o impacto que as cidades têm na Mata Atlântica
brasileira. Me engajei num movimento ambientalista em João Pessoa, trabalhei em
ONGs, e com a professora Lígia Tavares, que me estimulou a ter uma visão
crítica sobre a questão ambiental. Depois fui trabalhar com ela na Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, na área técnica quando resolvi também fazer
Mestrado no Prodema – UFPB, onde trabalhei o Ambientalismo nas políticas
públicas, sobretudo na cidade de João Pessoa, e daí não saí mais.
Blog: Fale um pouco sobre a sua experiência na defesa da
Mata Atlântica na Paraíba
Vívian: Existem alguns
movimentos antigos, pouca coisa recente, e a minha experiência é de poucos
militantes, sempre os mesmos, que permanecem na batalha, fazendo as
manifestações. A gente tem a adesão de poucos jovens nas manifestações e nas brigas
propostas na cidade. Infelizmente, o Ambientalismo é uma questão pouco abordada
nas áreas de estudo e dentro da sociedade de uma forma geral, e por isso acaba
sendo mais difícil atrair pessoas para o movimento. Pela dissociação que existe
entre as pessoas e o ambiente, elas acham que estes são problemas externos e
outras coisas são focos principais. E a minha experiência é trabalho de formiguinha
de conscientização, de conversar, de falar.
A defesa da Mata Atlântica,
efetivamente, começou na Secretaria de Meio Ambiente com a elaboração do Plano
Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, que foi o primeiro do
Brasil, e foi levado como exemplo pra outros municípios no país. Esse plano foi
feito em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica, que fazia uma mobilização pouco
expressiva e quando João Pessoa fez o primeiro modelo de plano, nos unimos com
a ONG para viajar para outros municípios e levar esse exemplo, fomentando os
planos municipais. E isso deu tão certo que cinco anos depois entrei na SOS
para fazer a mesma coisa.
Blog: Quer dizer que o
município de João Pessoa tem uma relevância no cenário da conservação da Mata
Atlântica no Brasil?
Vívian: Sim, tem uma
relevância importante. Já estavam ali todas as metas feitas pelo governo
municipal para a conservação e recuperação da Mata Atlântica, só que fomos
prejudicados pelas mudanças políticas que promovem a descontinuidade dos
projetos. João Pessoa é sempre mencionada na SOS Mata Atlântica e em outros
municípios que se basearam em nosso Plano. Estamos agora no momento de revisar
o plano pra que ele volte a ser implementado pois, infelizmente está parado.
Blog: Na sua opinião, como
se encontra o estado de conservação da Mata Atlântica atualmente na Paraíba?
Vívian: Bem mal. Em João
Pessoa, a gente encontra grandes fragmentos, que eu chamo de pequenas
florestas, como a Mata do Buraquinho, Altiplano Cabo Branco, nas áreas do
Jacarapé e Aratú, mas não temos arborização urbana suficiente e pequenos
fragmentos são desmatados para a expansão urbana.
Mas eu tenho uma notícia
boa, a SOS está lançando este mês de dezembro um site chamado ‘Aqui tem Mata?’.
É um site que traduz numa linguagem popular os dados do atlas de remanescentes,
da SOS. Daí você digita com o nome da sua cidade e o link informa quantos
habitantes tem, quanto de Mata Atlântica tem restante, acima de três hectares,
e quanto isso equivale em tamanho de estádios do Maracanã. Quando fui testar o
site, cliquei João Pessoa e Pau Dalho (cidade de Pernambuco), pequenininha, que
tem 15 vezes mais Mata Atlântica que João Pessoa. Fiquei chocada, porque todo
mundo fala que João Pessoa é uma cidade verde, mas quando você clica, aparecem
só dois ou três estádios do Maracanã!
Blog: Nós sabemos que você
está indo a Paris (COP21) apresentar um trabalho sobre a Mata Atlântica. Você
pode falar sobre isso?
Vívian: É um trabalho
voltado para a questão do ambientalismo no Brasil e de como aconteceu a formulação
da Constituição de 1988 e a Lei da Mata Atlântica, que é fruto do movimento
ambientalista e os planos municipais da Mata Atlântica, que são o primeiro
requisito para a conservação da floresta. Então, eu vou apresentar um pouco do
que eu aprendi no Mestrado com o trabalho que eu faço atualmente na SOS, com os
resultados obtidos neste primeiro ano do programa de municípios mobilizados
para a realização do Plano da Mata Atlântica, que é um planejamento ambiental
para pensar as cidades sustentáveis a partir do ambiente e não da infraestrutura.
Será apresentado na Conferência da Juventude, em sua 11ª edição, que acontece
antes da Conferência oficial do Clima, e ela tem uma programação bem vasta
relacionada a temáticas ambientais.
Blog: Qual a relação entre
Plano Mata Atlântica e as mudanças climáticas?
Vívian: O Plano municipaliza
a responsabilidade sobre o meio ambiente, processo que já aconteceu em outras
cidades da Europa, onde os municípios tem autonomia e segurança para fazer o
planejamento urbano. E o Plano mostra que a cidade precisa ter o olhar para a
questão ambiental, para não ter crises no futuro, como a da água, engarrafamentos
que promovem a poluição e que poderiam ser evitados com um planejamento prévio.
A gente acha que uma pequena mata não faz diferença na questão da temperatura,
e na verdade faz: nós temos níveis de temperatura diferentes dentro da cidade
de João Pessoa, por exemplo, o bairro de Manaíra tem dois graus a mais que
outros bairros que tem menos árvores, além da questão do nível do mar, que é um
outro fator, que vai nos atingir em João Pessoa. Então o Plano vem com a ideia
dos municípios serem mais sustentáveis e estarem preparados para a conservação
do bioma e trazer uma temperatura mais amena.
Blog: Existem outros
municípios na Paraíba que têm interesse no Plano da Mata Atlântica?
Vivian: Sim. Existe o
município de Mamanguape, que está em processo de elaboração de seu Plano Mata
Atlântica. O município de Cabedelo que assinalou uma vontade, mas não iniciou
as atividades. Bayeux já sinalizou o seu interesse, porém, também ainda não
começou e ele tem uma grande área para criação de Unidade de Conservação em manguezal.
Blog: Vivian, o projeto ‘Mata
Atlântica nas escolas’ deseja a você muito sucesso na defesa de nossa Mata
Atlântica lá em Paris.
Vivian Maitê na COY - Conferência para a Juventude, da COP21
Entrevista feita no dia 23 de novembro de 2015.
Edição: Diôgo Santos.
Para saber sobre a Mata
Atlântica na sua cidade, acesse: http://www.aquitemmata.org.br
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